Agenda do clima: eventos sobre mudanças climáticas antecedem a COP 28

por Redação

O ano de 2023 pode ser um dos mais quentes da história, segundo especialistas. Julho terminou sendo o mês com as maiores temperaturas já registradas. Além disso, inúmeros fenômenos relacionados às mudanças climáticas estão cada vez mais graves e afetando a população mundial.

Com isso, países do mundo todo ascenderam o alerta e estão se reunindo para discutir ações para um desenvolvimento mais sustentável e frear o aquecimento global. Na última semana, Nova York, nos Estados Unidos, realizou o Climate Week NYC (Semana do Clima de Nova York, em tradução livre).

O evento contou com a participação de líderes do mundo todo, incluindo o governador do Pará, Helder Barbalho, que defendeu que os países do Norte Global (mais desenvolvidos), financiem a agenda climática de preservação nos países do hemisfério sul, considerados em desenvolvimento.

Além dos eventos que ocorreram até o momento, 2023 também ainda deve ter alguns encontros sobre as mudanças climáticas.

Fonte: Pará Online

 

 

 


 

Evento pré-COP28 da Aliança Brasil NBS será realizado dia 16/10 em São Paulo

por Redação

A Aliança Brasil NBS realiza no dia 26 de outubro, no Cubo Itaú, em São Paulo, a primeira edição da Conferência Brasileira Clima e Carbono – Desafios e Oportunidades para os Mercado de Carbono no Brasil. A proposta da entidade que atua para o fortalecimento das Soluções Baseadas na Natureza (do inglês Nature-Based Solutions – NBS) é reunir profissionais interessados em questões relacionadas à mudança climática e oportunidades do mercado de carbono.

Está prevista a presença de especialistas, acadêmicos e autoridades no evento que funcionará como um encontro pré-COP28. A Conferência do Clima da ONU será realizada no fim do ano em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Fonte: Carbon Report

 

 

 


 

O agro está fora do mercado de carbono. O que isso significa?

por Sérgio Teixeira Jr. (Capital Reset)

O governo conseguiu apaziguar os ânimos exaltados da bancada do agronegócio e aprovou ontem no Senado o projeto de lei que cria um mercado regulado de emissões de gases de efeito estufa.

Com plantações e rebanhos – a produção primária agropecuária – isentos dos limites de emissões, a Comissão de Meio Ambiente do Senado aprovou por unanimidade o PL 412, que agora segue para a Câmara.

A votação foi resultado de um acordo entre as senadoras Leila Barros (PDT-DF), relatora do PL, e Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura do governo Bolsonaro e representante da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

A concessão desagradou setores do governo que queriam enquadrar a atividade econômica que mais emite CO2 no país.

Mas, na prática, isso demoraria anos para acontecer. Medir as emissões do agronegócio é extremamente complicado, e as metodologias para fazê-lo ainda são poucas e recentes. Nenhum mercado regulado do mundo inclui a agropecuária.

A essência do projeto de lei é a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), um mecanismo de cap and trade semelhante ao vigente na União Europeia desde 2005.

Os entes regulados recebem permissões para emitir uma certa quantidade de poluentes. Quem emitir menos do que sua cota pode vender seu “saldo positivo” para quem excedeu seus limites.

Os tetos ficam progressivamente mais estritos ao longo dos anos, o que encarece o fechamento da conta de carbono – criando incentivos econômicos para a descarbonização.

Em vez de submeter os produtores rurais às obrigações, o PL pretende induzir a descarbonização do campo de outra maneira, via mercado voluntário. (Abatedouros ou plantas de processamento de soja, por exemplo, podem ser regulados.)

A concessão desagradou setores do governo que queriam enquadrar a atividade econômica que mais emite CO2 no país.

Mas, na prática, isso demoraria anos para acontecer. Medir as emissões do agronegócio é extremamente complicado, e as metodologias para fazê-lo ainda são poucas e recentes. Nenhum mercado regulado do mundo inclui a agropecuária.

A essência do projeto de lei é a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), um mecanismo de cap and trade semelhante ao vigente na União Europeia desde 2005.

Os entes regulados recebem permissões para emitir uma certa quantidade de poluentes. Quem emitir menos do que sua cota pode vender seu “saldo positivo” para quem excedeu seus limites.

Os tetos ficam progressivamente mais estritos ao longo dos anos, o que encarece o fechamento da conta de carbono – criando incentivos econômicos para a descarbonização.

Em vez de submeter os produtores rurais às obrigações, o PL pretende induzir a descarbonização do campo de outra maneira, via mercado voluntário. (Abatedouros ou plantas de processamento de soja, por exemplo, podem ser regulados.)

A ideia é que agricultores e pecuaristas adotem práticas de menor impacto climático, como a redução no uso de fertilizantes químicos. Somando o carbono sequestrado pelo solo, propriedades rurais teriam um saldo positivo de CO2 – que pode ser transformado em créditos de carbono.

Esses créditos (ainda pouco comuns, mas que despertam enorme interesse) podem vir a ser comercializados dentro do próprio mercado regulado, dependendo da aceitação das metodologias pelo SBCE.

Escolher a cenoura em vez da vara faz sentido, diz Shigueo Watanabe Jr., especialista sênior do Instituto Talanoa, centro de estudos dedicado à política climática.

“O mercado regulado não é o instrumento adequado para induzir mudança na agricultura. Não existe vaca elétrica ou plantação de arroz a hidrogênio”, afirma ele.

Além disso, como a produção no campo é pulverizada, a imensa maioria das propriedades rurais ficaria abaixo dos patamares mínimos de emissão e, portanto, estariam fora do alcance da lei.

“Nenhum outro mercado de carbono no mundo exclui o principal setor emissor da regulação”, escreveu no X (ex-Twitter) Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas e idealizador do Fundo Amazônia. Deixar o agro de fora, para ele, significa que o mercado regulado brasileiro está “fadado a ser nanico”.

Mas não teria como ser diferente, diz Natalie Unterstell, colunista do Reset e presidente do Instituto Talanoa. Mesmo que o agro tivesse sido incluído, ainda assim o mercado regulado seria nanico em relação às emissões brasileiras.

Perto do desmatamento, responsável por metade dos gases de efeito estufa lançados pelo país na atmosfera, “tudo fica distorcido”, afirma ela. As estimativas para um sistema de cap and trade sem o agro calculam uma cobertura de 15% das emissões do país.

Fonte: Capital Reset

 

 

 


 

Senado aprova mercado de crédito de carbono no Brasil e exclui agro

por Brasilamaz

Na manhã desta quarta-feira (4), o mercado de créditos de carbono deu um passo significativo para sua regulamentação. A Comissão do Meio Ambiente do Senado aprovou por unanimidade o projeto de lei que visa estabelecer as regras para esse mercado, tido como uma das prioridades do governo federal para o segundo semestre de 2023.

O mercado de crédito de carbono é um mecanismo que busca reduzir as emissões de gases na atmosfera. Ele opera estabelecendo metas de redução e permitindo a venda de quantidades excedentes no mercado. Até o momento, devido à falta de regulamentação, não havia regras claras que estabelecessem um preço uniforme e outros padrões para esse mercado, lacunas que o projeto agora aprovado visa preencher.

Fonte: Brasil Amazônia Agora

 

 

 


 

Mercado de crédito de carbono é aprovado no Senado

por Gabriel Hirabahasi

BRASÍLIA – A Comissão do Meio Ambiente do Senado aprovou por unanimidade na manhã desta quarta-feira, 4, o projeto de lei que regulamenta o mercado de créditos de carbono – considerado uma das prioridades do governo federal para este segundo semestre. O texto tramita em caráter terminativo, ou seja, será encaminhado diretamente à Câmara dos Deputados.

O mercado de crédito de carbono nada mais é do que uma forma de reduzir as emissões na atmosfera, com o estabelecimento de metas de redução, além da possibilidade de venda da quantidade excedente no mercado. Como o mercado ainda não é regulado, faltam regras que estabeleçam um preço único e outros balizadores para este mercado — questão que deve ser sanada com a aprovação do projeto.

 


A aprovação do projeto de lei (PL), que teve sua aprovação postergada por diversas vezes por divergências sobre trechos da proposta, se deu após um acordo da relatora da proposta, a senadora Leila Barros (PDT), com a bancada ruralista e com a oposição, por intermédio do governo federal.

Com o acordo, as atividades primárias do agronegócio ficaram de fora do mercado regulado, sendo oficialmente enquadradas no mercado voluntário de carbono. Assim, atividades como a plantação de cana ou a criação de gado não são obrigadas a aderir ao mecanismo e a se submeter as leis que se tornarão vigentes com a criação da regulação.

 


 

O ministro Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais, foi inclusive ao Senado para acompanhar a votação e demonstrar o apoio público do governo à proposta e ao texto construído pela relatora.

A oposição concordou, pelo acordo firmado com a relatora após modificações finais no texto, em não apresentar um recurso para que a proposta sena analisada pelo plenário do Senado.

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O projeto de lei cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), que terá o objetivo de regular e fiscalizar o mercado.

 


 

Quem está sujeito ao mercado?

Estarão sujeitas às regras do SBCE empresas que emitem acima de 10 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano. As empresas que emitirem mais de 25 mil toneladas de CO2 terão de seguir regras mais rígidas.

As metas nacionais serão estabelecidas por um Plano Nacional de Alocação feito pelo SBCE, que terá de acompanhar o cumprimento das metas. Caso isso não aconteça, há penalidades previstas, como a multa de até 5% no faturamento bruto da empresa.

 

Fonte: Estadão

 

 

 


 

Mercado de carbono: o que é e para que serve

por Beatriz Capirazi

A regulação do mercado de créditos de carbono, considerada uma das principais pautas da agenda ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), é também uma das apostas econômicas do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e figura como um ponto importante do plano de economia verde do governo.

A regulação que avançou no Senado Federal nesta quarta-feira, 4, através do projeto de lei (PL) 412/2022, abre possibilidades para que o setor se expanda e se torne um player de relevância no mercado internacional.

A proposta, que tem a senadora Leila Barros (PDT-DF) como relatora, foi aprovada por unanimidade pela Comissão do Meio Ambiente do Senado e será encaminhada diretamente à Câmara dos Deputados, por se tratar de um texto que tramita em caráter terminativo. A expectativa é que o PL até seja aprovado até o final deste ano.

 


O que são créditos de carbono?

Os créditos de carbono são um sistema de compensação de emissões de dióxido de carbono na atmosfera que, na prática, transformam o CO₂ em uma commodity comercializável, visando incentivar a descarbonização e impulsionar ações que ajudem a combater o aquecimento global.

Além disso, essa é uma das formas das empresas atingirem as suas metas de redução de emissões de carbono.

Na prática, as empresas mantêm a sua emissão — considerando que, dependendo do setor, a mudança a ser feita é muito grande e estrutural — e ajudam a reduzi-la em outro lugar, servindo para que indústrias poluentes alcancem suas metas climáticas sem precisar mudar o seu negócio central.

Para as empresas, os créditos nada mais são do que certificados emitidos para uma empresa que reduziu a sua emissão de gases do efeito estufa e podem ser negociados.

 


 

O que é o mercado de carbono?

O mercado de carbono é a possibilidade de venda e compra da quantidade excedente de crédito no mercado.

Como o mercado ainda não é regulado, faltam regras que estabeleçam um preço único e outros balizadores — questão que deve ser sanada com a aprovação do projeto.

 


 

Projeto aprovado pelo Senado nesta quarta-feira, 04, era considerado uma das principais apostas económicas do governo federal Foto: Olivia Zhang/AP – 28/11/2019

 


 

Mercado voluntário x regulado

O valor monetário de cada crédito de carbono depende do mercado no qual ele está sendo negociado: regulado ou voluntário. Atualmente, o Brasil conta apenas com o mercado voluntário, onde as empresas ou outras entidades podem adquirir créditos para cumprir com os compromissos de mitigação voluntários.

Já nos mercados regulados, os governos determinam as metas de emissões para as empresas poluentes, e as empresas adquirem créditos para atender às legislações nacionais. Esse é o objetivo buscado pelo governo com esse projeto.

No Brasil, por exemplo, isso ajudaria a determinar quais os setores mais adequados para a fiscalização das emissões de gases do efeito estufa — considerando a atividade desempenhada por cada setor —, criando um limite de emissões para cada setor.

 

Fonte: Estadão

 

 

 


 

Leila Barros vai apresentar novo relatório no Senado para regular mercado de carbono

por Pedro Lovisi

A senadora Leila Barros (PDT-DF) deve juntar sugestões recebidas e apresentar na próxima semana um novo relatório do projeto de lei que regulamenta o mercado de carbono no Brasil. O primeiro texto foi entregue no final de agosto à Comissão de Meio Ambiente do Senado.

Nos últimos dias, a senadora se reuniu com governadores, além de representantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável e da Febraban.

Antes de fechar o novo texto, ela vai ainda conversar com representantes do agronegócio, setor com mais ressalvas públicas ao projeto. O novo texto vai incluir sugestões.

 


O relatório original apresentado por Barros foi baseado em sugestões do grupo de trabalho do governo, coordenado pelo Ministério da Fazenda em conjunto com outras nove pastas.

“Entendemos que a relatora e sua equipe estão realizando aprimoramentos para tornar a lei mais conciliatória, de forma que nossas manifestações têm sido no sentido de preservar a isonomia, credibilidade e integridade do SBCE [Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa]”, diz a pasta, em nota.

Em resumo, o texto instala o SBCE como o mercado de carbono no país passará a ser chamado.

De acordo com a proposta, o órgão gestor desse mercado será responsável por definir os limites de emissão de CO2 na atmosfera por setor da economia. O relatório prevê que os números sejam divulgados todo ano, mas a Folha apurou que o governo federal estuda ampliar o prazo para até cinco anos.

 


 

A metodologia, ainda não divulgada, deve considerar a natureza de cada atividade e a média de emissões dos últimos anos por setor. Segundo o relatório, estarão sujeitas obrigatoriamente ao mercado regulado empresas que emitam acima de 10 mil toneladas de CO2 por ano.

As empresas que conseguirem conter suas emissões para além do necessário poderão vender suas cotas para aquelas que ultrapassarem o teto estipulado. A ideia, porém, é que haja um limite na compra dessas cotas para incentivar que as companhias cumpram suas metas por conta própria.

Esse limite, estipulado posteriormente, pode chegar a 20% do teto de emissões, segundo quem participa das conversas sobre o tema. Haverá também a possibilidade de comprar créditos do mercado voluntário de carbono —que não deixará de existir.

 


 

Equipe da Carbonext em vistoria ao projeto Hiwi, no Acre.

 


 

No setor privado, com exceção do agronegócio, há consenso de que a base do relatório original é boa, ainda que haja discordâncias sobre alguns pontos.

A principal delas, por exemplo, passa por quem será o responsável por aprovar os tetos de emissões e estabelecer as diretrizes gerais do mercado regulado.

O texto apresentado pela senadora atribui esse papel ao Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima, criado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em junho e formado por 18 ministros.

Empresários e entidades privadas defendem que essa função seja de algum órgão menos político, com participação da sociedade civil e das próprias empresas reguladas.

 


A preocupação das empresas é que a alíquota torne o desenvolvimento de projetos de carbono menos atraente. “Atualmente, para aqueles que estão no lucro presumido, a grande maioria dos proprietários e parte dos desenvolvedores paga uma tributação menor que a proposta no PL pelo ganho de capital, o que na prática significaria uma majoração dos tributos incidentes e não um incentivo às transações”, afirma Annie Groth, vice-presidente da Aliança Brasil NBS, que representa entidades com mais de 70% dos créditos relacionados ao uso da terra emitidos no Brasil.

 

Fonte: Folha de São Paulo

 

 

 


 

Giro Econômico | Crédito de Carbono e Lei do Bem

por Maria Manso

Esta edição do Giro Econômico debate a intenção de criar uma bolsa carbono, chamada B4. Como ela vai funcionar? Saiba seus prós e contras, principais desafios do mercado e o crédito de carbono.

O Giro também aborda a Lei do Bem, o que é isso? Descubra as últimas mudanças na Câmara, importância dessa lei para o país e seu retorno financeiro.

A edição entrevista  Janaina Dallan, presidente da Aliança Brasil NBS, apresentação de Maria Manso e comentários da economista Mariana Almeida.

 

 

 


Fonte: Jornalismo TV Cultura

 


 

Cinco pontos de tensão no projeto do mercado de carbono

por Sérgio Teixeira Jr.

A intenção declarada do governo é colocar em votação ainda este mês no Congresso Nacional o projeto de lei que cria o mercado regulado de carbono no país.

No geral, o texto foi bem recebido por quem acompanha o assunto – e aguarda há anos a definição de um mecanismo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa do setor produtivo.

Ainda existem demandas de alterações pontuais no texto vindas das muitas partes interessadas na precificação do carbono. Mas não se esperam mudanças na essência do PL-412, disseram várias pessoas envolvidas com o tema e que conversaram com o Reset nos últimos dias (todas pediram anonimato para falar livremente sobre as conversas de bastidores).

 


A opinião unânime é que não existe redação ideal, dada a enorme diversidade de stakeholders: o setor privado – que estará sujeito a novas obrigações legais –, os governos estaduais e municipais, as ONGs, as comunidades tradicionais.

Também ouvem-se relatos de tensões latentes dentro do próprio governo, a exemplo das visões opostas sobre a exploração de petróleo na foz do Amazonas. Na Esplanada dos Ministérios, desenvolvimento sustentável significa coisas diferentes, dependendo do prédio.

A movimentação em Brasília tem sido intensa desde a divulgação do PL, há duas semanas, e a expectativa é que pelo menos algumas das sugestões de mudança sejam incorporadas. Hoje, as principais discussões se concentram nos cinco pontos abaixo.

 


 

A governança

O Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE) proposto pelo projeto de lei tem uma governança em três níveis.

O principal deles, que cuida das diretrizes gerais do SBCE, fica a cargo do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima, um órgão do governo federal já constituído, mas que está inoperante.

A principal crítica a esse ponto diz respeito à concentração de poderes na mão do Executivo. “As empresas, que vão ter de cumprir as obrigações no dia-a-dia, desejam ter mais voz”, diz uma pessoa diretamente envolvida nas conversas com a senadora Leila Barros (PDT-DF), a relatora do PL.

 

 


 

A natureza jurídica do carbono

O projeto de lei também estabelece, pela primeira vez, a natureza jurídica do carbono. Pela proposta, trata-se de um valor mobiliário que está sujeito às regras da Comissão de Valores Mobiliários.

Uma definição é aguardada há muito tempo, mas pelo menos uma das partes envolvidas não está inteiramente satisfeita com a escolha: os desenvolvedores de projetos de créditos de carbono do mercado voluntário.

Apesar de tratar essencialmente do mercado regulado, este ponto do PL pode acabar afetando também as compensações hoje negociadas livremente, pois o projeto estabeleceria uma regra geral para tudo o que diz respeito a carbono.

Uma das preocupações é o aumento dos custos e da burocracia logo no ponto inicial de uma cadeia que ainda está se desenvolvendo.

“Para ser um emissor de valor mobiliário, são necessários registro e autorização da CVM”, diz em nota a Aliança Brasil NBS, que reúne as empresas do setor.

 

 


 

 

Os créditos de carbono da Amazônia

Uma das ambições do projeto de lei é criar um mercado regulado que leve em conta as características particulares do Brasil – especificamente, o potencial das chamadas soluções baseadas na natureza.

Na prática, isso significaria a aceitação de créditos de carbono do mercado voluntário – hoje quase inteiramente baseado em projetos que evitam o desmatamento da Amazônia – como forma de compensar emissões de uma siderúrgica, por exemplo.

O problema, afirmam as empresas que atuam na geração desses créditos, está na linguagem do PL.

“O projeto não é claro quanto à inclusão de projetos de REDD desenvolvidos à luz de padrões de certificações e suas metodologias”, diz uma nota da Aliança Brasil NBS.

 

 


 

 

A participação dos Estados

O Consórcio Interestadual Amazônia Legal, que reúne os governos de nove Estados da região, faz uma queixa parecida.

“Manifestamos preocupação em relação a pontos que têm o potencial de inviabilizar o recebimento de recursos oriundos da redução de emissões por desmatamento evitado”, diz uma nota da organização.

Um dos motivos do protesto é a transição dos projetos de geração de créditos de carbono para um modelo jurisdicional. Hoje, a maioria das iniciativas é realizadas em áreas pequenas e circunscritas, tipicamente propriedades privadas.

Nesse modelo, cada projeto estabelece sua linha de base, ou seja, o risco de desmatamento naquela região. Todo o desmatamento evitado é recompensado com créditos de carbono.

Os críticos afirmam que isso cria um incentivo perverso: quanto maior a chance – estimada – de devastação, mais valorizadas serão as atividades de preservação em créditos de carbono.

O sistema jurisidicional eliminaria, ou pelo menos reduziria, esse risco estabelecendo uma linha de base única para Estados inteiros. Ao mesmo tempo, criam-se as condições para projetos abrangendo áreas potencialmente muito maiores, incluindo concessões para o setor privado.

 

 


 

 

O agro

Nas experiências de mercado regulado que existem pelo mundo, o foco é sempre no setor industrial – especificamente em indústrias pesadas, que emitem muito.

A intenção do projeto de lei é fazer o mesmo no Brasil, mas há pressões do Ministério do Meio Ambiente para que o agro também seja submetido a limites legais de emissões.

O texto não estabelece quais setores da economia serão regulados; isso deve ficar para uma fase seguinte.

Além disso, existem problemas de ordem prática: é difícil estabelecer com precisão as emissões de gases de efeito estufa decorrentes da atividade agropecuária, e a cadeia é muito dispersa.

De qualquer modo, a mera menção da palavra agro acende alertas políticos por causa da força da bancada ruralista no Congresso.

 

 


 

 

Fonte: Capital Reset

 

 

 


 

Bolsa de créditos de carbono no Brasil já nasce sob desconfiança do mercado

Viveiro de mudas da re.green, empresa de restauração de florestas que mira mercado de créditos de carbono, em Piracicaba (SP) - Zanone Fraissat/Folhapress

por Pedro Lovisi

O Brasil terá nas próximas semanas uma plataforma automatizada de venda e compra de créditos de carbono. Mas a chamada B4, classificada como “bolsa” pelos próprios fundadores, nem começou a operar e já acumula uma série de críticas de atores desse mercado.

A plataforma promete hospedar títulos de crédito de carbono em tokens; ou seja, será possível acompanhar todas as transações envolvendo aquele ativo. O processo, segundo a B4, evitará a duplicidade da venda de um mesmo crédito. A empresa também diz que vai analisar todos os registros dos títulos antes de aprovar a entrada deles na plataforma.

 


 

É esse último ponto que mais assusta o mercado.

Hoje, cabe a pouquíssimas certificadoras validar um crédito de carbono. O mercado no Brasil, por não ser regulado, opera sob regras estabelecidas por entidades privadas, a maioria internacionais e renomadas. A mais famosa é a Verra, com sede em Washington.

 


 

Vendedoras e compradoras de crédito de carbono alegam que o processo de validação das certificadoras já é confiável e, por isso, criticam a iniciativa da B4 de querer analisar o registro dos títulos.

“Os fundadores são pessoas que não têm histórico de crédito de carbono e que não entendem essa lógica do mercado”, afirma Janaina Dallan, presidente da Aliança Brasil NBS (sigla em inglês para para Soluções Baseadas na Natureza).

 

A aliança diz representar as empresas desenvolvedoras de projetos de carbono responsáveis por mais de 70% dos créditos emitidos desde o ano passado no Brasil.

A B4 foi fundada por Odair Rodrigues, 40. Ele diz trabalhar em consultorias desde os 18 anos. Há oito, começou a investir no mercado de blockchain, tecnologia que propicia o registro público de todas as operações de uma mesma rede. Em seu perfil no LinkedIn, Rodrigues não menciona ter atuado em empresas ligadas à pauta ambiental.

Questionado sobre as críticas sugerindo falta de experiência com o tema, ele afirma ter participado de dois projetos voltados para créditos de carbono na Starten, incubadora criada por ele em 2021.

O outro sócio da empresa é Mozart Fernandes, 27, especialista em design e marketing. Ele também não lista empresas ligadas à pauta ambiental em seu perfil no Linkedin.

“Quando abrirmos o livro de ofertas, qualquer pessoa vai poder gastar e comprar como se fosse em uma exchange tradicional. Como se fosse entrar em um aplicativo do banco e comprar produtos”, diz Rodrigues. Hoje, as negociações no Brasil são feitas individualmente entre os vendedores e compradores.

 


Segundo Rodrigues, a B4 já recebeu 300 pedidos de empresas interessadas em vender créditos de carbono na plataformaOutras 30 já teriam demonstrado interesse em comprar. A B4 foi fundada no último dia 16, mas deve começar a operar nas próximas semanas.

De acordo com Rodrigues, a verificação dos registros será feita com base em banco de dados públicos e notícias disponíveis na internet.

São incertas, porém, as regras utilizadas pela B4 nessa análise. E isso preocupa as empresas.

“Nenhuma empresa da aliança falou que vai colocar o crédito nessa bolsa, porque não entendeu ainda o que está acontecendo”, diz Dallan.

Até agora, apenas 1% de todos os créditos de carbono submetidos à listagem na B4 passaram pelo crivo da plataforma.

 


Fonte: Folha de São Paulo